Tuesday 20 July 2010

Nr. 6: ainda na onda dos panos



Quando eu era pequenina, para além de evitarem dotar-me de um vocabulário que teria pouca utilidade após a saída do infantário (xixa, popó, ao-ao), os meus pais também saltaram etapas e ensinaram-me a comer como gente grande. Tenho a certeza de que a minha destreza manual também terá saído beneficiada (e, coitadinha de mim, nem assim), mas acima de tudo a minha educação esmerada no campo das maneiras à mesa dita que, desde miúda, nunca me tenha sentido insegura à mesa, seja numa conferência, numa gala ou numa tasca. E esta segurança não tem preço, tanto no trabalho como na vida real (wink, wink).

Outra das coisas que garante é que eu sempre soube que se colocam no colo guardanapor de pano e se deixam na mesa os de papel. Resultado: neste país onde eu moro, e que os guardanapos aparecem com a frequência daqueles cometas raros ou dos e-mails do idiota do francês que não me liga nenhuma, tenho duas hipóteses - deixo os alemães porem aquela meia árvore que lhes colocaram ao lado do garfo no colo, não fazer o mesmo e deixá-los pensar que eu sou muito mal educada. Ou trazer uma fotocópia do Knigge, a Bobone cá do sítio, no bolso e fazer figura de snob. Como a minha mãe também me passou algum bom-senso, vai ganhando a primeira.

Nr. 5: o pano das mãos e o pano da loiça


Há um pano de turco onde se limpa as mãos depois de as lavar. Há outro pano, de outro material, que é excelente para lavar a louça. Não se usa o mesmo para as duas coisas e não se confunde um com o outro. Ah! E não se limpam mãos sujas ao pano destinado a secar mãos lavadas.Tão simples e no entanto...

Monday 19 July 2010

Nr. 4: os homens tratam-se mal e gostam (enfim)



Lembro-me muito claramente de uma das primeiras vezes em que percebi que nem toda a gente tinha uma mãe como a minha: foi quando um rapaz pediu a uma amiga minha que lhe apertasse os cordões dos sapatos e ela, que estava muito apaixonada por ele, acedeu. Comigo isto nunca poderia ter acontecido: eu ainda não tinha feito dez anos quando a minha mãe me sugeriu discretamente que tratar os meus pretendentes com especial pouca consideraçao podia ser uma boa ideia. Uma ideia reforçada por uma máxima que a minha avó levava a mal a todas as (outras) mulheres bem amadas: isto para os homens, minha filha, quanto pior melhor.

Acho que isto foi pouco antes da quarta classe, porque no último ano da primária eu já tinha conquistado desta forma o Pedro, que era da turma do lado. Todo o recreio ele me perseguia: ele dizia-me como gostava de mim, eu dizia-lhe como ele era estúpido, ele como eu era bonita, eu como ele era presumido.

Mas claramente estava ali a faltar alguma coisa e eu sofria muito: tinha-o conquistado mas não sabia o que fazer com ele, tirando tratá-lo mal e fugir-lhe enquanto o seu interesse se mantinha. Algo me estava ali a faltar.

Só muitos anos depois percebi o delicado balanço entre ignorar uma pessoa e sufocá-la de atenção, entre o antes, o depois e os muitos durantes de uma conquista, o momento a partir de qual se deve trocar a sobranceria pelos bateres de pestanas entusiasmados, os mesmos pelo mimo, o mimo por outras coisas mais interessantes e tudo isto de novo por um pequeno olhar sobranceiro mas, mesmo sendo a sua validade francamente limitada, esta é a primeira lição da minha mãe de que me lembro.

(se alguém conhecer o Pedro da escola primária nr. 3 de Almada, digam-lhe que eu o amava muito e que, vitoriosa e tristonha na minha cama, sofri certamente mais do que ele) (a fotografia é deste senhor)

Nr. 3: A melhor mousse de chocolate do mundo



Se calhar quando as minhas irmãs crescerem, a minha mãe se calhar já se terá esquecido de como cozinhávamos antes da Bimby (pronto, estou a ser mázinha), mas a mousse de chocolate de mi madrecita sempre foi imbatível e nunca provei nada que lhe chegasse aos calcanhares. Mas o melhor de tudo é que o único segredo é a sua absoluta simplicidade:


250 gramas de chocolate
5 ovos
5 colheres de sopa de açucar
2 colheres de sopa de manteiga

Derrete-se o chocolate (agora uso chocolate negro, quanto mais puro melhor, mas a verdadeira, a da minha infância, sabe a chocolate de culinária) com a manteiga (poupar em qualquer outra coisa que não estas duas colheres bem cheias de manteiga verdadeira, que é que vai, ao solidificar, criar aquelas bolhinhas maravilhosas e aquela aparência texturada que se torna num creme maravilhoso mal chega à boa). Batem-se as gemas com o açucar, junta-se ao chocolate e à manteiga já mornos, bate-se as claras e envolve-se com cuidado.

Há receitas para todos os gostos (eu gosto bastante menos das que levam natas) e a minha mãe entretanto corta nas gemas e acrescenta claras em substituição mas esta é a minha receita de sucesso. Uma das coisas mais simples que sei fazer e uma das mais maravilhosas. E como a minha mãe a partilha como se nada fosse, também eu a publico para consumo público. Porque muitas vezes as coisas mais simples são as melhores.


Nr. 2: Às compras


E só porque comecei a falar de roupa: foi também com a minha mãe que aprendi a ir às compras. A pesar os tecidos com a mão, ver as costuras, perceber o corte, analisar os acabamentos, saber o que valem as coisas antes de comparar o seu valor com o preço que trazem marcadas, venham da H&M, da loja em segunda-mão do meu bairro ou da Chanel ali da esquina. Por causa da minha mãe, tendo a não comprar coisas más, mesmo quando muito baratinhas, sou absolutamente alérgica a imitações de pele, seja em sapatos ou em carteiras e sou muito pouco sensível a marcas, mesmo que por vezes ainda me deixe levar pelas promessas de qualidade e me engane.

Nr. 1: Decotes e Mini-saias


Não consigo precisar exactamente em que ano aprendi com a minha mãe a diferença entre o atraente e o barato, o sexy e o oferecido. Deve ter existido um dia específico em que ela me terá impedido de de ir para a escola com ar de rapariga que se aluga às meias horas ou um momento específico em que me terá explicado que não se podem vestir decotes vertiginosos com mini-saias ou explicado acerca de um vestido que ele não deixaria de o revelar se eu tivesse uma borbulha no rabo. Mas acima de tudo aprendi esta lição por exemplo, de uma mulher lindíssima que nunca teve de descascar para que o mundo se virasse ao vê-la passar.

Os meus critérios são diferentes dos dela, claro: as melhores lições não são as que decoramos tipo cartilha mas a que nos dão as ferramentas para, a partir delas, ir escrevendo a nossa.

coisas que aprendi com a minha mãe


O "coisas que aprendi com a minha mãe" foi um dia um pequeno livro, preparado em segredo para o dia dos cinquenta anos de mi madrecita, chamado "40 coisas que aprendi com a minha mãe e 10 que ela podia aprender comigo".

Em conversa com amigas, chegámos à conclusão de que todas nós tínhamos lições a partilhar, sabedoria guardada e mães a homenagear. E pensei que podia estender o que é um livrinho pequenino (que entregarei, em mão, em Agosto) e convidar-vos a partilhar também com o mundo as lições que fizeram de vocês mulheres inteiras, a escrever as coisas que aprenderam com a vossa mãe.

Em posts pequenos ou grandes com muitas coisas ou só uma, com ou sem imagens, vídeos ou música, originais ou antigos, exclusivos ou em sintonia com os vossos blogs, de forma anónima ou assumida. A enviar para mail [at] ritadantas [ponto] com.

Ah! E se a conhecerem, à minha, não estraguem a surpresa!